Todos os dias ela cantava a canção
"Ela tinha uma amiga chamada Maria"
e a Maria sonhava, dançava, rodopiava,
sabia que no fim de tantos anos
alguém iria reparar, e esse alguém ia achar
que esta Maria era uma estrela,
mas os anos passavam a uma velocidade
de velocímetro avariado, dos 0 aos 100
em menos de segundos
e este era um desastre chamado Maria.
Conta a estória que não sabia ler,
não sabia escrever
e a ela tudo eram tropelias
serviu numa loja, limpou casas, escadas,
sanitas, marmitas, e pratos,
limpou os filhos, o marido
até que este se consideou como perdido,
ela tudo ensaiou e em nada brilhou.
Não sabia estacionar, o carro incomodava.
Raio do empecilho, comprado pelo filho,
ela tropeçava, não sabia arrancar
não sabia parar e batia.
O desastre continua, bastava subir a rua.
Cozinhar era um inferno, confundia o mel com o fel,
Sal, pimenta, açucar, tudo lhe metia confusão
trocava-os sem óculos e com eles
na certeza do que fazia enganava-se outra vez.
partiu is pés, arrancou unhas, queimou-se
e alarmou-se. Dizem que nunhum grito se ouviu.
Com a roupa a mesma coisa, as camisolas perdiam-se pelas mãos
os sapatos trocavam.se pelos pés
e nem sabia contar até dez.
Era o gato que ladrava, a cadela estrangulada.
Do primeiro filho nem sabe como engravidou
a filha violada
e nunca se sentiu amada,
Deixou passar os dias, as noites, sempre na esperança
que alguém a chamasse à dança
e ela ia à igreja, rezava e penava,
deixava-se ficar à janela, na esperança que não caísse
mais nenhum vaso na sua cabeça
e deixou ao lume a comida, o telefone a tocar,
o radio a cantar, a televisão a chorar
e sem reparar no desastre da Maria
Acordou com o cheiro do coração a queimar...
4 comentários:
Adoro a música do Camané da Maria lol
Partilhamos certas nuances de escrita psicopatológica e eu começo achar que não é mais do que uma projecção!
Projecção não, isto é pura escrita criativa... Estava a pensar numa peça de teatro, que tivesse este nome, como não consigo escrever muito, saiu um poema, historieta... A musica do Camané é demais...
coitada da Maria . .
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